Treinador de Elite: Quem És? – Jerry Silva
Jerry Silva é Mestre em Direito do Desporto pela Universidade Lusíada e Mestre em Ciências da Educação Física e Desporto (especialização em Treino Desportivo) pela Universidade da Maia.
O advogado divide a sua vida por duas paixões, as leis e o deporto.
Acaba de editar o livro “Treinador de Elite: Quem És?”, motivo para uma agradável conversa sobre futebol.
Há claramente dois amores na sua carreira?
Duas grandes paixões, concorrentes mas não excedentes. Futebol e Advocacia de mãos totalmente concertadas.
O direito e o desporto Como foi que isso aconteceu? Cresceram com naturalidade e de forma espontânea. primeiro a paixão pelo futebol. Depois, o gosto pelo advocacia foi despertando e a opção no final do ensino secundário mostrou-se acertada e concluída licenciatura exerço a profissão há 26 anos, com 24 anos de inscrição na ordem dos Advogados. O caminho, conjunto, está no inicio.
Agora edita um livro chamado “Treinador de Elite: Quem És?” Que livro é este?
Um livro que, assente em profunda investigação, descortina pelo menos cinco instrumentos que se mostram imperiosos para a conformação de um treinador de elite.
Modelo de liderança, inteligência emocional, mentalização, composição de equipas multidisciplinares e comunicação.
Concertantes, indissociáveis e seguramente imprescindíveis.
Busquemos a perfeição, e se não a alcançarmos, contentemo-nos, talvez, com a excelência.
Um mote de entendimento para este livro.
O que distingue um treinador de elite de um qualquer treinador?
Um conjunto de competências, valências inacabadas e imperfeitas mas superiores, instrumentais e acessórias que lhe permitam a obtenção de resultados desportivos com reflexo nos sucesso económico e financeiro das equipas profissionais que lideram.
Qual a importância de um treinador para o espetáculo? Sendo que os verdadeiros protagonistas são os jogadores?
Exemplarmente, a mesma que que pode ter um motorista que conduz um autocarro pejado de utentes.
Os utentes são essenciais para o negócio, mas sem um condutor entram, sentam-se, mas não se deslocam.
O treinador é o condutor. O líder.
Porque é tão fácil despedir um treinador?
A orientação resultadista, vigente, conduzida e assente de forma corporativista nas ” mãos ” de quem, em regra, não tem qualquer competência, sequer critério de acesso para aceder a posição que permita decidir o futuro de um treinador – dirigentes em regra sem formação, ética e competência- potencia a vulnerabilidade e fragilidade de um elemento cujo “poder” varia na proporção inversa da responsabilidade.
Acresce que, inexistem mecanismos legais, em particular por via de contratação colectiva, que permitam consolidar e estabilizar a relação laboral desportiva do treinador.
Qual a razão por chamarem o José mourinho o Special one?
Marcou uma época no futebol luso, europeu e mundial.
Para além de da singularidade dos troféus conquistados em todos os países em que treinou, arrasta consigo uma aura distintiva, em particular ao nível da liderança, inteligência emocional, e da comunicação em especial.
“Penso que posso utilizar os meus contactos com a comunicação social para poder condicionar determinados pensamentos” dixit. Um treinador que ” apoia o seu sarcasmo amoral nas neurociências, comparando pessoas que considera incapazes a protozoários unicelulares”, tem tanto de manipulador como de único sedutor.
Um driblado nato de emoções. Sim, The one. The special one.
Como vê o futebol atualmente?
Esclavagismo mercantil.
O que diz sobre a implementação do VAR?
Subscrevo todas as tecnologias ou instrumentos que possam contribuir para a verdade desportiva e melhoria do espectáculo desportivo.
Mas não esqueçamos que quem controla os mecanismos são humanos. E, em certa medida, “Quanto mais longe dos homens, tanto melhor; trato e familiaridade com eles, Deus vos livre!” actualizando Padre António Vieira, no Sermão aos Peixes tão presente e adequado.
E sem uma base regulamentar sólida, tudo por “a(var)iar”.
A polemica de a volta da pouca formação do treinador do sporting, faz algum sentido?
Detalhes que desviam o foco do essencial.
Um modelo de formação autocrático e desfasado da realidade e necessidades efectivas de formação para os treinadores desportivos.
Um modelo de formação cego, que seguramente mudará e contemplará “carreiras” formativas de acordo com o percurso qualitativos e quantitativos dos interessados, atento a especificidade de interessados na carreira desportiva que, embora iguais perante a lei, não podem ser iguais na admissão, acesso e desenvolvimento da sua carreira desportiva.
O Estado demite-se. O interessado paga para ser.
Treinador de elite! Afinal quem é?
Um homem/treinador que, muito mais além de competências técnicas, tácticas ou de natureza física, seja capaz de deter um superior domínio na área comportamental e por via disso, admitindo ser menorizado, compagina liderança, inteligência emocional e comunicação, desaguando na composição de equipas multidisciplinares, aptas a contribuir para a meritocracia e por via disso para a obtenção do sucesso desportivo, social/comportamental, económico e financeiro das equipas que lidera.