O Pai
Há seguramente mais de um ano que não ia ao cinema.
E ontem aventurei-me, uma vista sobre os filmes que estavam em cartaz, e “voilá”, vejo “O Pai”.
Bilhete comprado on-line, o que é uma maravilha, escolhe-se a sala, o filme, o lugar, tudo muito fácil e disponível em qualquer telemóvel.
Desta vez a escolha fez-se pelo Alvaláxia (Complexo Multi-salas instalado no Estádio do Sporting.
Gosto deste cinema, pelo tamanho das salas, pelo angulo das cadeiras, e pelo som.
Fui o primeiro a chegar à sala, uns 10 minutos de antecedência e por minutos, achei que ia ver o filme sozinho, mas não, as pessoas lá foram aparecendo, e quando começou estariam para aí 12 pessoas no total.
Pouco, muito pouco, tal a “Crueza” e “Beleza” do filme. Este filme merecia sala cheia. Infelizmente, nestes tempos será impossível.
Com uma brilhante e magistrosa interpretação de um dos meus actores favoritos Sir Anthony Hopkins (os outros são Roberto de Niro e Al Pacino), e depois de vermos “O silêncio dos Inocentes“, com a sua personagem Hannibal Lecter, eis que Sir Antonhy Hopckins se consegue superar e apresentar este filme que retrata a história de uma doença degenerativa, que infelizmente nos pode “tocar a todos”, e sem sabermos bem o que é…a Doença de Alzheimer.
Para quem não sabe o que é, aqui fica uma breve descrição:
A Doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras).
Esta deterioração tem como consequências alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das suas atividades de vida diária.
Quando a pessoa perde uma capacidade, raramente consegue voltar a recuperá-la ou reaprendê-la.
Mas voltemos ao filme, nomeado para 6 Oscares, acabou por vencer 2 – Melhor Actor (Como não podia deixar de ser) e Melhor Actor Secundário.
Realizado pelo dramaturgo Florian Zeller, a partir de uma peça de teatro escrita por si, “O Pai” , este filme passa-se unicamente dentro de um apartamento, e mesmo as duas cenas passadas no exterior são vistas através da janela desse mesmo apartamento.
Este é um drama devastador.
Mais do que uma história, é um retrato sobre esse período muitas vezes inevitável de muitas vidas — e de como é difícil quando voltamos a ser dependentes.
Quase toda a gente já teve de lidar com esta questão, seja com um pai, uma mãe ou um avô , e é um daqueles filmes que facilmente nos deixam a refletir sobre a nossa própria vida.
Anthony Hopkins interpreta Anthony, um idoso em Londres.
É visitado regularmente pela filha, mas já precisa de ajuda profissional.
Apesar disso, recusa-se a receber cuidadoras em casa e insiste que os esquecimentos que vai tendo não são assim tão importantes.
Não demora muito até percebermos que aquilo que não parece assim tão sério é realmente preocupante. Ou seja, se Anthony nos consegue quase convencer no início de que a filha talvez esteja a exagerar um pouco, ao longo do filme vamos percebendo as enormes dificuldades que ele atravessa.
O filme está brilhantemente realizado do ponto de vista de Anthony.
A narrativa está completamente fragmentada, porque durante uma hora e 40 minutos vivemos na cabeça de um idoso com claros sinais de demência.
Anthony não tem uma noção temporal correta, troca as pessoas — literalmente há vários atores a interpretar as mesmas personagens — e deixa de as reconhecer.
Baralha pensamentos, intenções, emoções, enfim, tudo.
Por vezes não sabemos se estamos no tal casarão, ou numa casa próxima (com uma decoração diferente) onde vive a filha, ou se estamos, por exemplo, numa clínica.
Os detalhes vão mudando ligeiramente, deixando-nos a todos confusos.
É uma viagem por uma mente demente que nos deixa perdidos, à procura de lógica em todos os pormenores — e conseguimos encontrar excertos coerentes — para mais tarde percebermos, inevitavelmente, que não temos onde nos agarrar. Obviamente, esta jornada só tem um destino — e invariavelmente ele é triste, embora seja do mais natural que existe.
“O Pai” é um daqueles filmes emocionalmente pesados, mas obrigatórios.
É um daqueles filmes que prometem ficar com o espectador muito depois de ele sair do escuro da sala de cinema.
E essa é a melhor qualidade que podemos apontar a um filme.