Xadrez – Gambito de Dama
O inesperado sucesso mundial da minissérie Gambito de Dama e a obrigação de confinamento fizeram disparar o interesse pelo xadrez.
Mas a história, ficcionada, da imparável campeã Beth Harmon veio chamar a atenção para uma velha questão: o sexismo num desporto dominado por homens.
Mais reis do que rainhas. Quais as razões para isso?
Para começar Gambito é um termo que quer dizer manobra para enganar o parceiro.
Já Rainha e o nome informal que damos a peça Dama a peça mais importante do tabuleiro de xadrez.
O xadrez existe há muitos séculos e é jogado por milhões de pessoas no mundo, mas continua a ter a fama de ser um jogo para intelectuais, complexo e sisudo.
Também tem a fama de ser um jogo para homens e continua a estar muito marcado, mas tem havido uma evolução nos últimos anos, sobretudo devido ao aparecimento de cada vez mais jogadoras federadas.
Ninguém gosta de perder, mas há uns anos perder um jogo contra uma mulher era muito malvisto…
Isso está a diluir-se rapidamente, mas acredito que ainda seja sentido dessa maneira por alguns jogadores mais velhos.
Catarina Leite é a única Mestre Internacional portuguesa, está no top 100 dos melhores jogadores nacionais e foi campeã feminina oito vezes (entre 1999 e 2006).
Ouvindo as suas primeiras recordações do xadrez, é fácil imaginarmos que, por vezes, se sentiu identificada com a personagem ficcional Beth Harmon de Gambito: “Tenho quatro irmãos, três mais velhos, que jogavam; eu também aprendi mas nem me entusiasmava muito com o jogo… Um dia, os meus irmãos tinham um torneio na escola, em Odivelas, e o meu pai disse que só podiam ir se me levassem também , eu tinha 8 anos e eles la me levaram. Fui, joguei, tiveram de me avisar para não estar sempre a falar das jogadas dos outros, porque eu não fazia ideia do que era um torneio e as suas regras… E nem sabia que era uma competição nacional! Ganhei e, um ano depois, fui representar Portugal a Duisburg, na Alemanha, no campeonato mundial sub-10.”
Isso é que é Catarina. Parabéns porque jogar xadrez não é para todas!