Cartas de Amor e de Dor. Recordações Íntimas e poderosas do ultramar
A Marta Martins Silva, é uma verdadeira apaixonada pela escrita, jornalista de profissão encontrou na escrita uma forma de comunicar!
De rajada edita dois livros onde a temática central é a guerra colonial!
Primeiro “Madrinhas de Guerra (A correspondência dos soldados portugueses durante a Guerra do Ultramar)”.
Agora surge “Cartas de Amor e de Dor (Recordações íntimas e poderosas do Ultramar)”
Foi por aqui que começamos uma agradável conversa, rodeados de muitas memórias!
Como foi que achou que o seu caminho era na escrita?
Sempre gostei de escrever. Desde que me lembro de mim andava sempre com um bloco e uma caneta fosse para que lado fosse. O papel sempre foi uma espécie de confidente, um ombro amigo que nada pedia em troca e talvez a minha forma de lhe agradecer tenha sido enchê-lo de palavras e nunca o deixar vazio. Não sei quando percebi que queria fazer da escrita a minha profissão porque na verdade nunca quis outra coisa que não fosse escrever. À medida que fui crescendo fui-me descentrando de mim para escrever sobre os outros e percebendo que nada me dava mais prazer do que contar histórias reais mesmo que parecessem ficção. No jornalismo, que exerço há 15 anos na revista Domingo do Correio da Manhã, a forma de juntar as minhas duas paixões: a escrita e as pessoas.
Conversamos há cerca de um ano, dessa vez falamos do seu outro livro “Madrinhas de guerra”. O que a atrai tanto na guerra colonial?
Sobretudo perceber que é um acontecimento recente que é pouco abordado apesar do impacto que teve no país e na geração que a viveu mais de perto. É um tema de história – e a história fascina-me no sentido em que podemos aprender muito com o passado e evitar com isso erros no presente e no futuro – mas cujos protagonistas ainda estão vivos. Vivos e com vontade (e necessidade!) de contar aquilo que passaram. Estes homens precisam de alguém que os oiça e eu entendi fazer disso uma das minhas missões: contar as histórias que a História esconde através da voz dos seus protagonistas.
Com estes dois livros editados e com as várias investigações que fez, consegue entender como foi a guerra em África?
A guerra em África foi uma ilusão imperial na qual a dada altura só Oliveira Salazar, enquanto vivo, acreditava. A minha perspetiva enquanto autora de livros relacionados com a guerra é sempre o lado emocional da mesma e de facto quanto mais estudo sobre o tema e quantas mais pessoas contacto – e têm sido muitas nestes últimos dois anos – mais percebo o quão marcante foi para os antigos combatentes e para as suas famílias, que mergulharam num acontecimento para o qual não tinham qualquer preparação nem vontade e cujas cicatrizes ainda hoje permanecem.
Agora tem um novo livro “Cartas de Amor e de Dor. Recordações Íntimas e poderosas do Ultramar”
Que livro é este?
É um livro com muitas cartas escritas durante a guerra colonial, trocadas entre os combatentes e aqueles que lhes eram queridos (mães, pais, namoradas, mulheres, amigos, madrinhas de guerra). É um livro que usa as cartas como fio condutor da narrativa mas debruça-se em particular sobre a história daqueles que escreveram as cartas sem nunca esquecer o cenário de guerra e a própria história do país que eramos nas décadas 60 e 70 do século passado.
Teve acesso a essa cartas? O que diziam?
Sim, tive estas cartas na mão – verdadeiros tesouros que os seus protagonistas com toda a generosidade me deixaram espreitar e em relação a isso nunca me canso de lhes agradecer. As cartas são um objeto íntimo e eles confiaram em mim e no meu trabalho e por isso foi com todo o respeito e delicadeza que tratei tudo o que li. E li muitas saudades, amores sofridos pela ausência, notícias devastadoras mas também aquelas trivialidades do quotidiano que ajudam a situar o país que eramos naquela altura. Não era incomum os soldados perguntarem às famílias, por exemplo, pelo gado, pelo pomar, pelas colheitas – as cartas eram sobretudo uma forma de se sentirem vivos no meio de uma guerra que os podia matar no minuto seguinte.
Estamos muito habituados à rapidez do WhatsApp, da resposta imediata à minha pergunta! Nessa época era bem diferente?
Naquela época era preciso ter paciência e esperar pela resposta na volta do correio. Que podia demorar duas semanas ou dois meses. Pelo meio ficavam pendentes pedidos de namoro, zangas por resolver, mas não havia outra forma de contacto que não através do Serviço Postal Militar.
Consegue entender o lado emocional de quem escreve?
Perfeitamente. As cartas são emoções em forma de palavras e portanto transportavam saudade, amor, dor, medo, esperança. Senti isso tudo ao ler estas cartas e espero que quem ler o livro consiga sentir também.
São bem escritas?
Há de tudo, até porque é preciso contextualizar estas cartas nos anos sessenta e setenta do século passado, numa altura em que a alfabetização ainda era uma realidade distante para muitas pessoas e muitos soldados tinham a quarta classe. Mas encontram-se verdadeiros poetas entre estes ‘escritores’ de cartas e mesmo aqueles que davam erros conseguiam transmitir todas as suas emoções mais profundas.
Consegue entender como era a vida na frente de batalha com este livro?
Neste livro descrevo sobretudo o lado emocional, mais do que o bélico, mas algumas das cartas abordam a parte mais militar da guerra, proporcionando aos leitores uma visão sobre a guerra em si.
Onde andou a fazer investigação para esta obra?
Arquivos, bibliotecas e sobretudo junto dos protagonistas daquele tempo, que generosamente me abriram os baús de memórias (e de cartas) para que eu pudesse trabalhar o tema da forma mais próxima possível.
Quem acha que vai ter muito gosto em ler o seu livro?
Acredito que toda aquela geração – os que partiram para a guerra e os que ficaram à espera deles. Todos aqueles que gostam de história e têm curiosidade sobre a história do país. E gostava muito que também as gerações mais novas se interessassem pelas histórias que os seus pais e avós guardaram toda a vida.
Minha amiga,
Vi e ouvi a reportagem/entrevista no programa do Goucha no dia 08/12/2021, e como ex-Combatente, sofrendo de STRESS PÓS TRAUMÁTICO DE GUERRA, fiquei sensibilizado com o tema.
Como estou a ser seguido por uma Médica Psicóloga da Liga dos Combatentes, que me está a ajudar (pois apesar do meu problema, só o consegui admitir ao fim de quase 40 anos), foi-me aconselhado, falar…falar, ou escrever sobre o assunto.
Vivi e tenho conhecimento real de muitos assuntos, inclusivamente das conversas havidas com o General Spínola, da Operação “MAR VERDE”, da emboscada dos MAJORES e de muito mais, que não tenho pudor nem medo de relatar, com verdade, e isso infelizmente tem sido regra neste país: A MENTIRA, sem respeito por quem lá morreu que não tem voz para desse defender.
Nesse sentido, estou a escrever as minhas memórias em livro, a que vou chamar:
” GUINÉ 71/72 – RELATOS DE UM COMBATENTE “.
Gostaria que fizesse o favor de o ler, e de me dar a sua opinião. Gostaria que me enviasse o seu contacto, pf.
Muito obrigado.
Caro José Orlando,
Muito obrigada pelo seu comentário e partilha.
Já informámos a autora Marta Martins Silva, que agradeceu.
Caso queira partilhar connosco este é o nosso email: geral@coisasboasemalta.com
Cumprimentos.
Bom dia, gostaria de contactar com a Senhora Jornalista Marta Maria Martins, porque na entrevista que teve com o Sr Goucha, sobre o tema dos combatentes, referiu-se há Senhora Maria Estefânia Anacoreta,grande Senhora no trabalho que fez sobre a guerra no Norte de Angola, e lamentou não ter podido falar com ela, nesse sentido poderei dar-lhes dados interessantes sobre a pessoa, uma vez que tive o privilégio de a escoltar de Bessa Monteiro,Bala, e Quibala Norte no ano 1966. Caso haja interesse em falar comigo, aguardo contacto ok? TM 967666825.
Boa tarde sr. José Orlando
sendo filha de um militar que esteve na Guiné, gostaria de saber se o seu livro já foi publicado e o respectivo título.
Obrigada
Cumprimentos
Maria Azeredo