-
Eu sou Clarice Lispector
A vida e obra da escritora brasileira já falecida, estão na base desta peça “Eu sou Clarice”, com texto e encenação de Rita Calçada Bastos. O teatro tem destas coisas: entrei na sala bem disposta e o texto foi me incomodando até me ser difícil ouvir o que a actriz dizia. Eu sou Clarice é um monólogo interpretado por Carla Maciel e o segundo duma trilogia que passou por Tchekov, depois este e para fechar passará por Charles Chaplin. A peça está ligada com a biografia da escritora que é considerada uma escritora avassaladora e que escreveu sobre a humanidade de uma forma poderosa e até cruel. Está em cena no Teatro Aberto e quem gosta de Teatro não pode deixar de ir até lá! A actriz agarra o espectador com as palavras que lhe saem com variados tons de voz conforme a situação e perturba quem está sentado a seguir…
-
Terapia Sem Filtros
Com a compra do novo iPhone foi me oferecido a assinatura da Apple TV. Ando meio de costas viradas em relação à televisão, tenho passado o meu tempo livre a ler. Com esta oferta não resisti e decidi ver o que está disponível. Descobri “Terapia Sem Filtros” e fiquei rendido. Harrison Ford e Jason Segel são psicólogos e tudo gira à volta do lado emocional. Como pode de facto um terapeuta ajudar um paciente que sofre? O protagonista desta série usa uma método muito pouco “normal”, diz aos seus pacientes tudo o que pensa. Por exemplo, aconselha uma mulher que tem uma relação muito tóxica a separar-se do marido. A série é de facto muito divertida. Tem-me dado muito prazer entrar na vida destas pessoas, acabando por voltar a ter prazer em voltar a ver televisão. Aconselho vivamente.
-
“Caderno de Memórias Coloniais” de Isabela Figueiredo
No espaço de dois meses li três livros desta autora. No início de janeiro, não sabia quem era a Isabela Figueiredo, hoje posso dizer que a conheço, que fiquei tão encantado com a sua escrita que a convidei para vir ao programa que faço na rádio. Dona de uma escrita fácil, onde as emoções se fazem sentir. “Caderno de Memórias Coloniais” é a visão da Isabel sobre o período agitado da descolonização. A relação estabelecida entre um pai e uma filha. A forma racista como o brancos tratavam os pretos em Moçambique. A obra está cheia de cheiros de sabores e de memórias da autora. É um livro que também pode ser um documento histórico. Isabela é autobiográfica em tudo o que escreve, é impossível ler este livro sem pensar na vida da autora. Recomendo para quem viveu em Moçambique.
-
Tár
O filme é enorme e se não fosse bem realizado e com bons actores e belos diálogos era demasiado tempo dentro de uma sala. O filme ganhou 9 prémios Bafta e é um sucesso Tár surge assim como um drama que aproveita as bases do Movimento MeToo para criar mais uma grande história que agarra o espectador. Pode parecer estranho, mas “Tár” acaba por se revelar assim como uma referência pela igualdade e pela defesa das vítimas que já vimos noutras obras do género. A maestrina Lydia Tár (Cate Blanchett), regente da Orquestra Filarmônica de Berlim e uma das artistas mais conceituadas do cinema conseguiu mexer nas minhas emoções. Como mulher no meio musical, Lydia ganhou destaque ao se tornar a primeira diretora feminina da Filarmônica e prepara-se para momentos importantes na carreira tentando conciliar trabalho e família. Dedicada de corpo e alma a uma gravação ao vivo da Sinfonia nº…
-
“Terra Americana” de Jeanine Cummins
Que história pesada.Mesmo assim, fica complicado não estabelecer uma relação afetiva com os personagens! A história começa com um massacre, uma família de 16 pessoas é assassinada durante uma festa pelos cartéis da droga. Os únicos sobreviventes são uma mãe e o filho de 8 anos. “Terra Americana” conta a história da fuga destas personagem até à América na tentativa de encontrar uma vida sem sobressaltos! Uma narrativa pesada, cheia de episódios. A viagem no topo de comboios leva-nos a um México muito pobre onde os barões da droga lideram. Nunca tinha ouvido falar na autora Jeanine Cummins, que escreve com paixão. Num universo tão violente acabamos por reconhecer a generosidade humana. Admito que me emocionei várias vezes e senti o peso de quem não tem tempo para fazer o seu luto. Livro obrigatório.
-
“Extremamente Desagradável” ao vivo
Sou muito fã da Joana Marques, tento ouvir diariamente em podcast o “Extremamente Desagradável“. O programa começou na Antena 3, mas com a ida da Joana para a Rádio Renascença, levou com ela a rubrica. O espaço foi ganhando tanta popularidade que virou espetáculo, com digressão em Portugal. Fui ver a passagem do mesmo por Lisboa. A plateia estava cheia de colegas de profissão e de ouvintes que claramente são conhecedores do que a Joana faz na rádio. É bom sentir esta ligação, numa altura em que muita gente condena à morte o meio da rádio. O espetáculo está bem montado, com direito a vídeos que potenciam os momentos. A fadista Sara Correia entra em palco e canta o indicativo da rubrica, fazendo a mais pequena atuação da sua carreira, uns curtos 10 segundos. Começa com um monólogo onde a Joana goza com ela própria. Depois entra em palco o…
-
Gala dos 30 anos da TVI
O momento era aguardado com alguma expectativa. A junta de freguesia de Alvalade até anunciou que o trânsito estaria condicionado junto à Alameda das Universidades. Como espetador estava curioso. Com o desenrolar da festa o espetador comum estava na expetativa de assistir a um acidente. E foi isso que aconteceu na gala dos 30 anos da TVI, um gigante acidente, dando a sensação de nada ter sido ensaiado. Habituados a ver os Globos de Ouro, da SIC, uma cerimónia já com anos de experiência, num espetáculo de televisão muito razoável. Aquilo que vimos ontem foi um desastre total. Teleponto que talvez estivesse avariado, momentos de humor sem graça e profissionais de televisão que viram artistas. Ver o Diretor Geral da programação a fazer um dueto com Cristina Ferreira é como ver o Titanic a afundar-se. Cláudio Ramos aos gritos a tentar ter piada deixou-me verde de vergonha. Um espetáculo que…
-
Com amor e com raiva
O princípio deste filme Com Amor e com Raiva, de Claire Denis, é muito belo pois é só amor. Juliette Binoche no papel de Sara, uma jornalista que tem um programa de rádio, e Jean interpretado por Vicent Landon, um antigo jogador de râguebi que cometeu um deslize e esteve preso algum tempo e agora está a tentar refazer a vida, estão juntos há alguns anos e parecem ser a imagem da felicidade primeiro em férias na praia, depois no apartamento de Sara. Aos poucos a realizadora que adapta um romance da escritora Christine Angot, vai dando mais alguma informação sobre ambos. Filme da competição oficial do Festival de Berlim e Urso de Prata para a melhor realização. O cartaz que tem Juliette Binoche e Vicent Landon, ao sol, é enganador. Com Amor e com Raiva é um filme cinzento e tenso e conta a história de um trio amoroso onde a certa altura…
-
HITnRUN Phase Two – Prince
Foi por mera sorte que tropecei no último disco de Prince antes do seu desaparecimento. Em 2015 passou totalmente ao lado. Nos últimos dias tenho devorado esta despedida. Falo em despedida porque parece ser mesmo um disco de adeus, já que são inúmeras referências a toda a obra do artista. A meio de uma música deste disco, podemos encontrar um acorde, um arpejo, uma fase do passado. É genial, tem a capacidade de se rodear dos melhores músicos disponíveis. Está carregado de sentimento, com um groove único. Nesta despedia, Prince mistura de uma forma inteligente várias sonoridades, que passam pelo funk, pop, R&B e até rock. Os metais marcam o ritmo das canções. É o trigésimo nono álbum de estúdio do artista e o último a ser lançado em vida. É um disco imperdível, para ouvir de uma ponta a outra de sorriso aberto. Prince era o maior, dos poucos…