Fernando Neves autor da “Teoria da conspiração”
Fernando Neves uma vida dedicada à comunicação, trabalhou em todos os grupos de comunicação de Portugal.
Rádio Renascença, Rádio comercial, Antena 1 e TSF.
Nos últimos tempos criou um espaço na antena 1 que fez grande sucesso “Teorias da Conspiração“, a popularidade do espaço foi tão grande decidiu que fazia sentido transformar o programa em livro.
Para mim, que sou profissional da comunicação é um prazer enorme conversar com o Fernando.
Ainda se sente aquele brilho nos olhos de quem gosta efetivamente do que faz!
Como foi que te apaixonaste pela comunicação?
Essa é uma questão que sempre me inquietou. Como é que alguém em determinada altura da sua vida, decide ser médico, ou pasteleiro?
No meu caso, penso que a razão principal se prende com vários fatores.
Em primeiro lugar, o facto de assistir em miúdo às noitadas que o meu Pai realizava, por alturas das festas de agosto de Reguengos de Monsaraz.
O meu Pai explorava um pequeno espaço, ao qual chamava “Pavilhão Publicitário de Reguengos”, o qual não era mais que o local de onde saía as gravações que realizava à noite. Na prática, tudo se resumia a canções dos festivais da canção e os anúncios que angariava.
O áudio era difundido através de cornetas que eram instaladas na área da feira.
As semanas que antecediam o acontecimento eram sempre frenéticas e quando o meu Pai colocava o dedo na tecla de “play” era como se estivesse a falar para o Mundo. Ato contínuo, tentava imitar nas minhas brincadeiras aquilo que tinha presenciado na noite anterior, inventava anúncios e cantava as mesmas canções com letras que só eu conhecia. Talvez tenha sido esta sucessão de acontecimentos que me influenciaram à posteriori, não sei, mas o facto é que na minha adolescência o que eu queria ser era arquiteto…fazer casas! Nada a ver portanto.
Acontece que numa célebre noite de verão em 1977 (mais coisa menos coisa) Eu e mais 4 amigos decidimos ir até à Amareleja, havia festa! Fomos cinco num carro e às tantas demos por nós a discutir sobre o futuro. A minha vida profissional na altura era bem diferente (passada entre Cabarets e Casinos, nada de muito viciante, apenas exercia a profissão de ilusionista) e para os restantes elementos do grupo, era obvio que a minha vida estava decidida. Para mim não. Cigarro após cigarro, cada um ia elencando aquilo que gostaria de fazer no futuro, quase que um “O que eu quero ser quando for grande…” o rádio do carro estava sintonizado na Antena1 e aquela hora passava um programa chamado “Separata Especial de Sábado” apresentado por Hermenegildo Gomes, apenas um dos melhores profissionais de rádio que conheci.
Ao ouvir aquela voz, não tive dúvida nenhuma e quando chegou a minha vez, disse com ar de que tinha a certeza do que iria acontecer: “Eu quero fazer o que este gajo faz – eu quero fazer isto, eu quero ser assim!”
A partir daí a minha vida passou a ter um único objetivo, a rádio.
Obviamente que ficou deliciado a ouvir o discurso daqueles homens de voz rouca que com um microfone ao pescoço, passam horas a fio em cima de um camião a vender almofadas e cobertores como se fossem o último grito da tecnologia. Claro que fico siderado a ouvir a forma como certos pastores evangélicos dominam as respetivas plateias de fieis, e tudo isto tem contribuído para aumentar a minha paixão pela comunicação, pela forma como nos relacionamos uns com os outros,
És um apologista da rádio de autor, como vês a entrada da playlist nas radio?
Vejo mal, muito mal e não é uma questão de miopia. É óbvio que a rádio que se faz hoje em dia já não tem muito a ver com os primórdios radiofónicos. As rádios são hoje unidades de negócio e com exceção da rádio pública (as rádios que compõem o universo da RTP), são unidades que existem para fazer dinheiro, gerar lucro. Tenho sérias dúvidas que o caminho ditatorial da play tenha sido o mais viável e a razão principal desta minha dúvida, prende-se com o facto de atualmente a palavra estar a ganhar terreno à música e os programadores apostarem cada vez mais em programas de autor. São poucos, é um facto, mas acredito que a personalização da antena, é o caminho a seguir como método diferenciador de estratégias de programação.
Agora tens um produto que esta a fazer sucesso “Teorias da conspiração”
Que conceito é este?
O “Teorias” nasceu quase que por acaso. Quando fazia o meu Mestrado em comunicação, publiquei um “paper” sobre o Logro de Pessoa, que em traços gerais abordava o não poema “Pedras no caminho” e que erradamente é atribuído a Fernando Pessoa. Quando me encontrava a pesquisar elementos para a construção do texto, estreou na televisão a última temporada da série “Ficheiros Secretos”. Sendo fã incondicional, não perdi esse episódio, o qual apresentava nos 5 minutos inicias, um resumo muito bem escrito sobre tudo o que eram as conspiração governamentais e extraterrestres.
Ver aquele episódio resultou num “clik” na minha cabeça e comecei a procurar novas fontes de informação. O resultado foi avassalador. Afinal, havia “lá fora” um outro Mundo, quiçá plano e oco e que oferecia uma quase infinita teia de informações.
Era difícil não me apaixonar pelo tema!
Deixei amadurecer a ideia, sempre que podia lia umas coias e comecei a pensar na melhor forma de apresentar o produto final.
O resultado está patente nos 120 episódios que foram emitidos, que ainda hoje podem ser ouvidos nas plataformas digitais (RTP Play, Spotify e iTunes) e que resultaram no livro que referiste e que já vai na 2ª edição.
Não perguntaste mas eu respondo (!!!) sim, já tenho escritos mais 120 episódios, só não sei onde os vou apresentar!
Onde vais buscar inspiração para as histórias?
Por vezes o que preciso é de tempo para os escrever e não tanta inspiração. O Mundo está repleto de realidades alternativas, é como se de um Multiverso se tratasse. É mais o trabalho de edição, porque as histórias estão todas aí ao virar da esquina.
Há histórias que aconteceram em Portugal?
Muitas!
Desde o D. Afonso Henriques, passando por Sintra e terminando na costa Algarvia, há muito para contar. Já agora e para que não acusem de centralismo, quer a Madeira quer os Açores têm excelentes histórias.
Como surgiu a ideia de fazer um livro?
Não surgiu!
O meu horário de trabalho começava todos os dias às 8 da manhã. Até ao meio-dia era ocupado a dinamizar as redes sociais e a responder a questões dos ouvintes. Depois de almoço escrevia um episódio e ao fim da tarde gravava o áudio. A edição final era feita depois de jantar.
Como se vê, restava pouco tempo para pensar noutra coisa que não fosse apresentar um produto bem feito e sobretudo isento.
Só que no principio de junho, precisamente quando o programa começou a subir no top do iTunes e Spotify (chegou a liderar esta tabela) recebi 3 chamadas de 3 editoras a convidarem-me para refletir em livro, o que estava a fazer na rádio.
Escolhi uma dessas editoras e em agosto comecei reescrever tudo aquilo que tinha feito até então, pois como se saber escrever para rádio, para quem ouve, é diferente para quem lê.
A que distancia esta o livro das cronicas da rádio?
À distância da mesa de cabeceira, ou do saco de levar para a praia. Tal como na rádio, os capítulos são pequenos. A grande diferença, além do tipo de linguagem, é o facto de no livro as histórias estarem agrupadas por temas, grandes temas.
Quem vai ter muito prazer ao ler este livro?
Todos aqueles que o comprarem!
O livro, tal como o programa, foi feito de uma forma muito honesta, sem reservas e sem preconceitos.
Penso que quem o ler, terá tanto prazer como eu tive a escrevê-lo.