Triste envelhecer
Tenho o hábito de ir tomar o pequeno almoço na esplanada que fica debaixo do meu prédio.
Já conheço pelo menos de vista, algumas das pessoas que vou encontrando.
Mas há um casal que os tenho seguido há talvez 10 anos. Já na reforma, ele advogado e conhecido por motivos não muito próprios, instalam-se numa mesa.
A senhora transforma com ligeireza a mesa num pequeno escritório.
O Jornal Correio da Manhã em posição para ele ler e ela com uma pilha de livrinhos de sopa de letras que vai fazendo devagar e sem estar concentrada.
Vai observando as pessoas e sempre com um controlo férreo nos olhares que o marido tem para as senhoras que estão pouco interessadas neste senhor idoso. Parece ser possessiva e muito ciumenta e afasta tudo que é mulher. Seja um simples “bom dia” ou “hoje está frio!”
Chegados ao meio dia levantam-se e lá vão eles para casa. O dono do restaurante Zêzere aguenta firme a situação, pois não consomem absolutamente mais nada do que o café.
Custa-me vê-los tão decrépitos e no fim da linha.
Ao meio dia já não se levantam para ir almoçar, tem de ser o dono que lembra que tem de arranjar a mesa para o almoço.
Olham fixamente para a televisão e aí o meu coração aperta-se de compaixão: enquanto olham para o canal Panda e eles lá ficam a olhar para os bonecos.
Que triste é envelhecer!
Sozinhos durante uma manhã sentados num café sem ter qualquer objetivo.
Já tentei falar com eles mas a mulher disse-me uma vez: Apre! Quero concentrar-me.