Mariza ao Vivo no Meo Arena
Quando soube que Mariza ia atuar no Pavilhão Atlântico, confesso que fiquei com muitas dúvidas.
Primeiro, um concerto de fado numa arena?
Segundo, será que Mariza tem força suficiente para encher uma sala daquela dimensão?
A segunda dúvida dissipou-se assim que me sentei: a sala estava esgotada.
O espetáculo começou com 17 minutos de atraso, e o público, já acomodado, mostrava alguma impaciência. Mas, assim que Mariza entrou em palco, tudo mudou.
Após uma breve introdução instrumental, a artista iniciou o concerto com uma homenagem a Amália Rodrigues, cantando à capela. Foi um início poderoso, mas rapidamente Mariza deixou o fado para interpretar uma morna, e pouco depois transformou-se numa verdadeira cantora pop.
O alinhamento percorreu os êxitos de uma carreira de 25 anos, desenrolando-se com naturalidade. O público, rendido, foi criando uma crescente cumplicidade com a artista, que demonstrou o seu total domínio de palco e uma empatia inegável. Mariza é uma figura carismática, com anos de experiência e uma presença impressionante.
Ao longo do espetáculo, a cantora trocou de figurinos várias vezes, apelando frequentemente à interação nas redes sociais. Mariza tem plena consciência de que, nos dias de hoje, ser um produto mediático é essencial, e não perdeu a oportunidade de promover a sua página de Instagram, sabendo que cada like contribui para o seu valor no mercado.
Os convidados especiais marcaram presença, mas o ponto alto da noite foi, sem dúvida, a entrada de Nuno Ribeiro e dos Calema para interpretarem o sucesso “Maria Joana”. Confesso que continuo a achar intrigante como uma canção que menciona “autocarro” e “a francesinha não tem picante” consegue ter um impacto tão grande.
Durante quase duas horas, Mariza entregou um espetáculo que foi muito além do fado, mostrando uma fase artística completamente diferente. Hoje, Mariza é mais do que uma fadista: é uma cantora de “casino”, uma entertainer com uma capacidade vocal extraordinária.
Podemos até não concordar com o rumo artístico que escolheu, mas é inegável o trabalho, o profissionalismo e, sobretudo, o talento que apresenta.