Elétrico 16
Frequento um Clube de Leitura.
Gosto de ouvir falar de livros.
Ontem foi a vez da escritora Filomena Marona Beja de quem eu nunca tinha ouvido falar. Mas confesso que fiquei fascinada a ouvir o que ela escreve.
Achei um admirável romance que progride, ao sabor das flutuações do dia a dia de uma Lisboa popular cujo rosto fechado, rígido, socialmente contido e que o 25 de Abril de 1974 veio transformar, dando à cidade do Eléctrico 16 finalmente uma fisionomia cosmopolita, europeia, de costumes modernos.
Sempre regida pelo gosto para uma escrita narrativa marcada por uma lúcida rejeição do acessório, e uma imposição do essencial, Filomena Marona Beja mostra como parece ser fácil escrever.
Filomena Marona Beja nasceu em Lisboa, em 1944. Cresceu na Rua do Açucar, mas é avessa a histórias glicodoces, até porque o século XX português, pleno de transformações sociais e mentais.
Se o seu livro de estreia, As Cidadãs, cuja reedição, em 2009, coincidiu com as comemorações do centenário da implantação da República, decorre no início do século, o que se lhe seguiu, Betânia em 2000, permite-nos acompanhar uma história que decorre do nascer ao pôr-do-sol do dia da morte de Oliveira Salazar, em Julho de 1970. Romance com força narrativa ímpar, com o qual obteve o Grande Prémio de Literatura em 2006.
Já A Sopa em 2004, centra-se nos anos finais do século XX, designadamente na chegada a Portugal dos imigrantes africanos e do leste europeu. Já conseguimos ver o que ela gosta de escrever.
Aluna do Lycée Français Charles Lepierre e da Faculdade de Ciências da Universidade Clássica de Lisboa, onde se licenciou, Filomena Marona Beja é um escritora feminina mas não feminista.
Este livro conta a história de Helena que cresceu em Lisboa, num Portugal mergulhado na ditadura e envelhece, agora, num país em crise.
Fala de Joel o seu amor, de Salazar , da opressão, e de Humberto Delgado.
E fala muito da esperança e da liberdade.
A história de Helena é um pouco a nossa História, a história de muitas mulheres que viveram dos meados do século XX até aos nossos dias.
Aconselho vivamente.
Vão se deliciar com a sua escrita. Parabéns!