Memórias – O Papagaio da Carriche
Quando trabalhei no Teatro Malaposta, nos últimos anos do século passado, imaginem quanto tempo já passou, por vezes penso que não é verdade e é só imaginação minha, ia com muita frequência ao restaurante O Papagaio da Carriche.
Claro que lá havia um papagaio, que falava como se supõe fazerem os papagaios.
Sempre que uma mulher passava junto dele o papagaio dizia – “ A gaja é boa”.
Eu não achava muita graça, pois nem sempre era verdade, e pensava que lhe podiam ter ensinado algo mais elegante.
Mas um dia o José Martins e eu comíamos e conversávamos e o papagaio não se calava, repetindo sem cessar –“ É bom? É bom? É bom?”
Até que o José Martins lhe respondeu – “É bom, é”
E o papagaio de imediato começou – “ Dá cá. Dá cá. Dá cá”.
Até que a senhora do balcão lhe disse “ Não dá nada, que aquilo faz-te mal”
E o papagaio atacou logo com um “ Cala a boca” forte e decidido.
Aí mudei de opinião. Afinal os papagaios falam por conta própria, ninguém lhes ensina nada e até pensam e sabem defender os seus interesses.
Isto não é da minha imaginação. É verdade e passou-se como vos conto.