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A minha aproximação a Tchékhov

Quando fazia os preparatórios do curso de Engenharia Química na Faculdade de Ciências, nessa altura na Escola Politécnica, a Associação de Estudantes era onde hoje estão os Artistas Unidos.

Aí funcionava um grupo de teatro que ajudei a criar.

E lá fazíamos cursos, dados por actores profissionais, aí os estudantes preparavam os seus espetáculos.

Um dia fui à Academia de Santo Amaro, onde funcionava um grupo dirigido por Alexandre Babo, falar com um elemento do Teatro de Medicina, que também trabalhava nesse grupo. 

Esperei sentado na plateia a ocasião de lhe poder falar e com o maior prazer de ver o ensaio de A Gaivota de A. Tchekhov.

A certa altura chamaram-me ao palco para ler o texto de um actor que faltara nesse dia. 

Sabia ler, e fui. Depois de cumprida a tarefa voltei para o meu lugar. O ensaio continuou. 

No fim do ensaio ficaram a falar no palco sobre qualquer coisa.

Já se fazia tarde e eu tinha de voltar para a Rua do Salitre.

Os transportes públicos estavam na hora de acabar e eu não tinha dinheiro para táxis.

Voltaram a chamar-me ao palco e convidaram-me para substituir o actor cujo o papel eu fora ler, alegando que esse elemento faltava muito.

Eu disse que não podia, que conhecia a pessoa em questão e não me sentia bem tirar-lhe o papel. Falei com o meu colega e fui a correr para casa.

Alguns dias depois telefonaram-me dizendo que o actor tinha sido chamado para a tropa e que agora não podia recusar.

Aceitei. E gostei muito da experiência e deve ter sido mesmo esta experiência que me fez pensar no caminho do teatro.

Muito tempo depois, já este século, há muito profissional de teatro, li no livro Tchékhov em cena organizado por Luís Varela, num artigo de Rui Pina Coelho, que tinha participado na primeira Gaivota encenada em Portugal.

Fiquei surpreendido e feliz pois nunca em tal tinha pensado. Era o destino, o Teatro e Tchékhov.

Como amador em Moçambique, onde o destino também me levou, trabalhei os pequenos textos deste autor, que me deram prazer e experiência.

Posteriormente, já profissional, tive a Sorte de ser convidado pelo meu Amigo Rui Mendes para fazer o Astrov do Tio Vânia, personagem que todos os actores gostariam de ter feito.

Aceitei com todo o prazer e como um prémio que me era concedido e que nunca mais vou esquecer.

Por isso digo que sou um homem com sorte. 

Mais tarde o Luís Alberto, Amigo de há muitos anos, dizia que talvez fosse curioso e interessante para o público fazer um espectáculo que mostrasse a maneira como os actores preparam os seus papéis e vivem as suas personagens e quanto deles vai para cena também.

Como era uma ideia que me era cara não hesitei.

Como andava há algum tempo a estudar Três Irmãs escrevi um texto a que chamei Ensaio em que três actrizes se juntavam na casa de uma delas, para estudar em conjunto os seus papéis precisamente em Três Irmãs.

 Mais uma vez Tchekhov, mas já não era o destino, era a convicção de que este autor era um dos maiores da história do teatro.    

E era Ensaio porque ensaiar quer dizer experimentar e acredito que os seus textos são tão ricos que merecem a experiência de muitas soluções , de muitas leituras e interpretações, de muitas soluções.

Agora chega o Jardim das Cerejeiras onde vou investir toda a minha experiência e reflexão, todo o conhecimento adquirido, toda a ousadia que os textos merecem, com todo o respeito que devo ao Autor.

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