Coisas Boas em Alta
Gastronomia em Alta

O Corrido – Casa de Fados

Nada como ser turista na sua própria cidade.

Almas vencidas, noites perdidas, sombras bizarras.

Na Mouraria canta um rufia, choram guitarras.

Amor de ciúme cinzas e lume, dor e pecado.

Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado.
“ Letra de Aníbal Nazaré e F. Carvalho”

Numa mágica noite lisboeta, numa casa de fados chamada O Corrido, localizada perto do Patrão Nacional, disfrutei de uma refeição excelente.

Ao contrário da maioria das casas de fado e pontos turísticos, onde a fidelização se faz pelo espetáculo, pela vista ou pela envolvência, esta une a tradição do fado em Lisboa aos pratos típicos da culinária portuguesa com muita qualidade e simpatia.

Neste local, a cultura gastronómica e a música fundem-se numa experiência verdadeiramente memorável. O acolhimento do Filipe Rebelo, um verdadeiro mestre de cerimónias e um guitarrista fantástico, foi simplesmente brilhante.

Ao entrar no Corrido, somos imediatamente envolvidos por uma atmosfera acolhedora e pela melodia arrebatadora do fado. Este estilo musical, nascido nas estreitas vielas dos bairros históricos de Lisboa, é a alma do lugar.

As fadistas, com as suas vozes emotivas, interpretam canções que tocam os corações dos presentes e despertam a saudade que é tão intrínseca ao fado.

Destaque natural para a diva do fado Maria Amélia Proença, uma jovem com 75 anos de carreira que ainda canta e encanta.

No entanto, a experiência no Corrido não se limita à música.

A tradição do fado está intimamente ligada à rica gastronomia portuguesa, e é precisamente nessa casa que os visitantes têm a oportunidade de saborear pratos emblemáticos do país e da cidade.

O menu é uma verdadeira celebração dos sabores autênticos e tradicionais.

Comecemos pelas entradas:

Pataniscas de bacalhau. Estas delícias fritas, feitas com bacalhau desfiado, salsa e cebola, são um verdadeiro tesouro gastronómico.

Acompanhadas por um Tinto Alentejano de Pias – Encostas das Perdizes Reserva 2021 de cor vermelha com reflexos violeta, aromas bem presentes de frutos silvestres maduros, baunilha e especiarias. Os taninos são firmes e vibrantes e o final de boca é longo e sumarento.

Presunto de pato com laranja. Esta combinação clássica de carne tenra de pato bem fatiada e fumada com o sabor cítrico e adocicado da laranja é uma verdadeira explosão de sabores. A salada de acompanhamento deu-lhe frescura e cor.

Pratos principais :

  • O polvo à lagareiro é outra estrela da ementa. O polvo macio e suculento, cozido em azeite e alho.

Tal como o fado, o polvo com alho e azeite, acompanhado à “guitarra” pelas couves riparas, chalota e batatas a murro, são dois elementos icónicos da cultura portuguesa, enquanto um fazia as delícias do palato, ou outro na voz das 3 magnificas interpretes, fazia-me recordar os desafios da vida, as saudades da vida boémia e a vivência havida na cidade de Lisboa.

E, por fim, mas não menos importante, as bochechas de porco. Este prato, cozinhado lentamente, revela a verdadeira essência da cozinha tradicional portuguesa. As mesmas estavam tenras e suculentas. Uma verdadeira perdição.

Por fim uma mouse de limão bem cremosa e agradável, para facilitar a digestão.

Menu de € 47 com Espetáculo, couvert, entrada, prato principal e sobremesa.
Visitado e recomendado

“…De quantas cores se matiza o Fado!
Nem sempre o homem ri, nem sempre chora,
Mal com bem, bem com mal é TEMPERADO….”
(BARBOSA DU BOCAGE)

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