El Tocino
Numa tarde soalheira de Verão, decidi aventurar-me num restaurante pitoresco em Almeirim, cidade encantadora do nosso Portugal.
O meu amigo Emídio Sardinheiro , homem de bom gosto e fino paladar, tinha-me recomendado o famoso El Toucinho, uma extensão do famoso Toucinho, casa pioneira da Sopa da Pedra, aberta desde 1962. Com expectativas elevadas, entrei no estabelecimento.
Mal entrei, fui envolvido por um espaço acolhedor e rústico, que remete para um ambiente um tanto ou quanto Andaluz e bem taurino, não estivesse eu no Ribatejo.
Nas paredes, as prateleiras da adega continham bons vinhos, na sua maioria regionais. O Sr. Vasco apresentou-me um tinto encorpado da casa, servido num pequeno jarro de vidro resfriado, que acariciou o paladar e aqueceu a alma.
Os petiscos começaram a chegar à mesa e a primeira iguaria a deslumbrar-me foi a salada de orelha. Delicadamente temperada com azeite suave, era uma mistura de texturas e sabores que despertava os sentidos.
O polvo, por sua vez, apresentava-se numa saladinha avinagrada, repleta de frescura e tangibilidade marítima. Cada garfada era um mergulho num oceano de prazer culinário.
A estrela principal, entretanto, foi a bifana, tão suculenta e tenra que se desfazia na boca.
O molho, um segredo guardado a sete chaves, elevava o prato aos céus gastronómicos.
Tudo isso era servido numa caralhota, um pão ribatejano sem miolo, confecionado na casa em forno de lenha. O miolo é retirado de forma sábia para não sobrecarregar o estômago.
Mas a verdadeira jóia da casa revelou-se na malga de sopa da pedra. Com a sua cor que lembra as pedras das ruas, transportou-me às origens da casa. Reza a lenda que um cliente satisfeito, que tinha apreciado uma substância misteriosa na véspera sem conhecer o seu nome, referiu-se à sopa como sendo “da cor das pedras da rua”. Era uma criação majestosa.
Ao finalizar esta experiência culinária única, não poderia deixar de expressar a minha gratidão ao Sr. João Simões e sua mulher.
O acolhimento que recebi no seu restaurante foi um testemunho do amor e dedicação que eles depositam em cada prato que servem.
São estes exemplos de quem sabe manter as nobres tradições da nossa cultura que devemos acarinhar.