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100 Grandes Vinhos de Portugal – Maria João de Almeida

É uma das grandes figuras do universo do vinho em Portugal! 

Maria João de Almeida, uma talentosa jornalista que entrou no universo do vinho, é impossível falar em vinho Português sem falar na Maria João de Almeida

É autora de vários livros ligados a este universo, entre os quais «Memórias do Vinho» e «Guia do Enoturismo em Portugal», este último premiado o melhor do mundo nos Gourmand Awards. 

Chega agora ao mercado 100 Grandes Vinhos de Portugal, motivo para uma conversa animada com a nossa diva do vinho, uma mulher de olhar doce e penetrante! 

Como foi que o vinho entrou na tua vida?

Depois de tirar a licenciatura em comunicação comecei a minha carreira como free-lancer e, por isso, apresentava a diversos meios algumas ideias que tinha para poder escrever. Uma dessas ideias foi escrever sobre os primeiros cursos de prova de vinho que estavam a aparecer em Portugal. Nessa altura (Meados de 90) o vinho começava a assumir outra qualidade, e o primeiro curso que surgiu foi o da Escola de Hotelaria do Estoril direcionado a ‘consumidores esclarecidos’, frequentado na época por produtores, donos de garrafeiras, donos de restaurantes, entre outras pessoas ligadas ao vinho, que já viam o vinho de forma mais aprofundada e não apenas como um produto alimentar. Era uma bebida diferente das outras, de diversos estilos e regiões, com aromas e sabores por descobrir. Foi assim que contactei o professor Mário Louro para o entrevistar e assistir a algumas aulas, o que acabou por me despertar o interesse para descobrir mais sobre vinho, acabando por me inscrever para fazer o curso completo. Para mim, foi a descoberta de um novo mundo e, a partir daí, não parei mais. Tirei mais cursos de prova com enólogos, viajei para conhecer produtores em Portugal e no estrangeiro, li livros, visitei feiras, comecei a ser convidada para participar em concursos como júri de vinhos, comecei também a escrever livros, a dar formações… é caso para dizer que o vinho me entrou nas veias!! (risos)

És uma das figuras mais importantes dos vinhos em Portugal, como te sentes na pele de estrela do vinho?

Estou habituada a trabalhar sem pensar muito nos resultados, mas preocupo-me sempre em dar o meu melhor, sou muito exigente comigo mesma e isso implica sacrifícios que faço a nível profissional e pessoal. Sou muito grata por ter chegado onde cheguei, e a todos que apreciam o meu trabalho, mas considero que na vida nada é garantido, portanto, a minha postura é continuar sempre a trabalhar e a aprender…

Como é que uma mulher se torna líder num universo de homens?

Quando comecei nesta área não havia jornalistas mulheres na área dos vinhos, e havia poucas mulheres neste sector, enólogas, produtoras ou comerciais… Hoje em dia o cenário é outro, e já não era sem tempo! Há muitas mulheres em várias profissões relacionadas com vinho. Sem dúvida que foi difícil singrar… quando ia a eventos relacionados com vinho, entrava nas salas e ficava tudo a olhar para mim com um ar muito sério ou espantado, porque era a única mulher entre tantos homens! E isto durante anos! Costumo dizer a brincar que a única vantagem era, nesses eventos, não ter de esperar na fila de WC das senhoras (risos). Como se deve calcular, de início não me levaram a sério, não percebiam bem o que é que aquela miúda andava ali a fazer, mas na verdade isso nunca me preocupou. Ia escrevendo as minhas opiniões, os meus artigos, e penso que a qualidade do trabalho falou sempre mais alto, na medida em que as revistas e jornais, e os leitores gostavam do que eu escrevia. Assim fui conquistando o caminho, a pouco e pouco, ganhando o respeito dos apreciadores de vinho e dos meus pares. Penso que o segredo é mesmo trabalhar o melhor que sabemos, dar o nosso máximo, e acreditar sempre que podemos lá chegar, mesmo que pelo meio tenhamos inúmeros obstáculos que nos façam crer o contrário…

Agora lançaste um novo livro “100 Grandes Vinhos de Portugal”. Que livro é este?

É um livro que, como o próprio nome indica, dá a conhecer 100 vinhos portugueses de grande qualidade. Quem conhece a história e a realidade dos vinhos portugueses, sabe bem como a sua qualidade cresceu nos últimos anos, por isso podes imaginar o quanto esta escolha dos ‘100 Grandes Vinhos Portugueses’ foi difícil, já que muitos vinhos fantásticos foram deixados para trás. Por diversas vezes, vi-me entre a espada e a parede quando tive de optar por este ou por aquele vinho. Mas a vida é mesmo assim, feita de escolhas, e sei que o leque de vinhos escolhidos são motivo de grande orgulho para Portugal. Selecionei brancos, tintos e espumantes, e até alguns rosés. Através deles ficamos a conhecer as histórias de muitos produtores nacionais, a perceber diferentes métodos de produção e a compreender a lógica e as razões de cada enólogo quando fez determinado vinho desta ou daquela forma.

Quais foram os critérios para as tuas escolhas?

Alguns são clássicos portugueses aos quais não podia fugir, são vinhos que conseguiram manter a qualidade ao longo dos tempos, como por exemplo o Barca Velha, o Pêra Manca… ou vinhos com variedades interessantes e raras, como é o caso do Arenae, da Adega de Colares, elaborado com a casta Ramisco; ou o D. Fátima, da Manz Wines, elaborado com a casta Jampal… Depois, há também produtores mais recentes, com projetos incríveis que entretanto surgiram e que tinham de ser igualmente considerados. Tentei também não me concentrar só nas regiões mais conhecidas e selecionar grandes vinhos de regiões menos visíveis, e de diversos estilos, entre tintos, brancos, rosés e espumantes…

Na lista há vinhos baratos?

Quase todos são vinhos topo de gama, mas existem alguns mais baratos que outros. As pessoas não se deviam deixar influenciar tanto pelo preço, porque isso pode levá-las ao engano… Alguns vinhos de topo podem ser mais baratos porque foram produzidos em maior quantidade, porque são de uma região ou de uma marca menos visível, ou por ser um produtor mais recente, por exemplo… mas a qualidade está lá, tal como em vinhos mais caros, que o são pelas razões contrárias…. mas pronto, tentando responder mais objetivamente à tua pergunta, a maioria dos vinhos que estão no livro situa-se num intervalo de preços entre os 60 e os 300 euros! Sei que estes preços assustam, mas se pensarmos em vinhos topo de gama estrangeiros, especialmente franceses, os nossos preços ficam a parecer ridículos, já que na sua maioria os outros são quatro ou cinco vezes mais caros – ou até mais – dependendo das marcas, obviamente.

A acompanhar os teus textos há uma imagem forte. A imagem é muito importante num livro de vinhos?

Quem tem acompanhado o meu trabalho através dos livros sabe que gosto sempre de fazer livros diferentes, criativos, e que sejam esteticamente bonitos. Livros sobre vinho não têm de ser só com fotografias de adegas, barricas, garrafas e copos de vinho, podem ter uma componente criativa que torne o seu conteúdo mais apelativo. Assim, este livro não fugiu à regra e é igualmente marcante esteticamente. Para isso apresentei ao atelier M&A Creative a ideia de aliar à garrafa um objeto que contasse a história do vinho, conceito que foi interpretado de forma sublime pela equipa de fotografia e design que fizeram um trabalho maravilhoso. Eles empenharam-se profundamente para fazer deste livro uma obra de arte, uma edição memorável…. E conseguiram!

O livro é bilingue, o objetivo é chegar ao mercado internacional?

Sim, sem dúvida. Se a nível internacional os especialistas, produtores, enólogos, jornalistas e críticos de vinho já têm noção da qualidade do vinho português, nem sempre isso acontece com o apreciador de vinhos comum. Lá fora sempre fomos conhecidos como o país do vinho barato, mas já há uns anos que esse cenário mudou e temos de nos livrar desse estigma. A ideia deste livro é nivelar por cima o vinho português e queremos ajudá-lo a trilhar esse caminho, por isso apostámos na tradução em inglês para o público internacional. Se aos poucos temos conseguido voar mais alto, agora também temos todas as condições de voar mais longe….

Como caraterizas o vinho português?

Temos um país com 14 regiões vitivinícolas, com climas e solos muito variados, e mais de 250 castas, o que quer dizer que somos pequenos mas com uma riqueza e diversidade enormes. E temos a sorte de produzir vinhos a preços muito justos e acessíveis, e com uma qualidade acima da média em relação à maioria de outros países produtores. Somos realmente privilegiados…

Quem vai ter muito gosto em ter o teu livro?

Todos os apreciadores de vinho, especialmente os mais exigentes, os mais conhecedores. Mas também quem gosta de ler histórias interessantes, que explicam a história dos produtores, dos enólogos, das vinhas e das castas, dos métodos de vinificação… e tudo de uma forma muito acessível, para que todos entendam… é um livro acessível a todos!

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