No bairro das colónias há algo Especial!
Há dias, em que sem sabermos bem porquê, vêm-nos à memória as lembranças do passado. Se as algarvias me são muito frequentes, as lisboetas não são menos marcantes e, desta vez, recordei com saudade Adélia da Glória Jorge Castela, a minha avó paterna, cujo aniversário se celebrava a 15 de outubro (faria este ano 124 anos).
Movido pela vontade de reviver momentos de infância, rumei ao bairro das colónias, zona onde ela viveu por largos anos, mais propriamente na Rua Angola, 18, 2º andar.
Na realidade, o meu passeio também incluía uma visita gastronómica a um pequeno restaurante de bairro que me tinham indicado.
Percorridas a pé várias daquelas ruas labirínticas, cheguei ao meu destino situado na Rua Poeta Milton. Casa simples e sem qualquer pretensão decorativa, ostentava, todavia, no pequeno toldo o nome ESPECIAL.
Tomado o lugar à mesa, consultei a lista dos pratos, manuscrita numa toalha de mesa e afixada na parede. Optei por um robalinho escalado e por umas iscas com elas.
O Sr Fernando, dono do estabelecimento ali aberto em 1987, circulava por entre as mesas devidamente afastadas, distribuindo pratos bem guarnecidos aos comensais que teimavam em enfrentar a pandemia e dar à vida o ritmo da normalidade possível.
Quando me foi posto à frente o peixe pedido, o robalinho era afinal bem graúdo ao ponto de não caber no prato. Embora se percebesse que era de aquicultura, a sua textura firme e robusta não envergonhava a espécie nascida em alto mar.
De seguida, vieram as iscas muitíssimo bem temperadas com o vinagre no ponto responsável por um molho grosso que envolvia as batatas cozidas.
Há muito não provava umas tão boas e aquelas, para mais, tinham um especial toque caseiro que venho a saber depois pertencia à D. Célia, a cozinheira e mulher do Sr. Fernando.
A terminar, uma mousse de chocolate da mesma autora num equilibrado ponto de doçura.
Estarão por esta altura os membros deste blog a questionar, por que razão é afinal este restaurante ESPECIAL, se comi uma refeição tão simples e portuguesa. Ora é por isso mesmo. Nem sempre a especialidade está na refeição gourmet.
No estabelecimento deste casal da zona de Arganil, a mais-valia está na confeção caseira e despretensiosa dos alimentos que aliam uma excelente relação qualidade/preço.
Fico, portanto, na expectativa de lá voltar a uma 5ª feira para me deliciar com umas favas com entrecosto e de esperar, ansiosamente, pela época própria para provar o afamado arroz de lampreia.
Preço por pessoa € 10,00
R. Poeta Mílton 19
Anjos – Lisboa