As muitas saudades que nos deixas
Primeiro e único ponto prévio: raramente, ou quase nunca escrevo elogios fúnebres.
Não porque as pessoas não valham, apenas porque não gosto.
Mas como não há regra sem excepção o Mário Marques vale.
Dito isto. Há muitos, muitos anos conheci o Mário.
Julgo que, como acontecia na época, certamente que foi nos corredores da Rua Sampaio e Pina, ou talvez no bar Coice que, então, funcionava nas instalações da Rádio Comercial (antes da mal-fadada privatização nos anos 90).
Para o efeito pouco interessa. O que interessa é que, anos mais tarde e, por impulso do Leonel Santos (ironicamente falecido este ano e em cujo funeral estive pela última vez com o Mário) e, por sugestão do Mário Marques decidimos rumar de férias para a estância balnear espanhola de La Manga (próximo de Múrcia). Foi em Junho de 2000 e após essas duas semanas de férias tornamo-nos bem mais próximos.
Depois, o Mário deixou a Sampaio e Pina e rumou à RDP. No entanto, nunca deixou de passar pela sua antiga “casa” e, amiúde nos encontrávamos (no exterior) para conversar: sobre a Rádio, claro.
A evolução, os caminhos e as opções que eram tomadas. Quase sempre estávamos de acordo: a mal fadada privatização pôs fim à melhor estação de rádio das décadas de 70, 80 e 90 do século passado. E, falávamos dos programas que nos tinham marcado, apesar da nossa diferença de idades. Primeira saudade.
A rádio, afinal, era um denominador comum. Como se provaria nos nossos posteriores encontros: umas vezes nos almoços por ele organizados.
A rádio, quase sempre ela: pública ou privada, nacional ou local, bem ou mal feita. Era sempre ela que estava presente, tal como acontecia no grupo formado com o Miguel Peixoto para servir de pretexto (gastronômico) às nossas conversas. Segunda saudade.
Um pequeno parêntesis: o Mário conhecia os maiores e os mais pequenos lugares para um comes e bebes de Lisboa e arredores.
Se lhe falava em tal, ou tal sítio, ele já conhecia: já tinha ido, almoçar ou jantar porque, afinal, o Mário era um bom garfo e um bom copo.
Terceira saudade. No entanto, a saudade que nos deixas é muita e, só por si valeria mais que os três ou quatro parágrafos anteriores.
Até sempre, Mário e havemos de nos encontrar num corredor qualquer para (de novo) voltarmos a falar da nossa rádio.
Um grande abraço.