The Wine Company Portugal – Lisboa
“E eu vou buscar ao “alimento” que consola Um oriente ao oriente do oriente.”
Inspirado pelo verso de Álvaro de Campos, aqui, por mim, adulterado, tive com vontade de viajar até ao Oeste Indiano acompanhado de um grupo de amigos.
Consultada a carteira e a agenda, uma pouco recheada a outra a abarrotar, decidi que o melhor mesmo era tentar deslocar-me apenas pelo prazer da degustação ou prazer do palato através do estômago.
Era mais perto, mais barato e estava a salvo de problemas nos aeroportos, pandemias e atritos de guerra.
Movido pela curiosidade de conhecer melhor a minha freguesia do Areeiro, optei por visitar a convite de amigos dados a coisas boas em alta, o The Wine Company, que possui um simpático espaço para refeições a funcionar por marcação, na esperança de aí degustar uma refeição diferente que me despertasse os sabores ancestrais da comida Indiana / Gujarate.
Situado na Rua Barão de Saborosa 286B, o estabelecimento resulta de um interessante investimento feito por uma família de Gujaratis (povo da zona do oeste Indiano que ganhou a reputação de serem os maiores comerciantes, industriais e empresários da Índia), que congrega uma garrafeira com uma vasta oferta, uma mercearia de produtos asiáticos e na cave um amplo espaço com mesas, servidas por uma zona de cozinha bem equipada, uma verdadeira porta de embarque para a tão desejada viagem gastronómica.
Tomado o lugar à mesa, os cheiros do Oriente já me despertavam os sentidos e, com ansiedade esperei o repasto encomendado pelos meus ilustres convivas, que de forma prévia acautelaram a informação de algumas intolerâncias alimentares. Logo com atenção ouvia a informação muito apelativa da descrição dos ingredientes que compunham cada prato, prestada pelo simpático anfitrião, o ilustre Vishal.
Começamos com umas chamuças de frango que surpreenderam pela textura da massa filo bem estaladiça, a envolver um bem apaladado recheio de carne, com todo o aroma indiano e umas bolinhas de Grão bem deliciosas. Perante a difícil escolha oferecida pelo cardápio, selecionamos de forma prévia vários pequenos pratos para degustação, investindo naqueles que apresentavam a junção quer de ingredientes diferentes, quer de combinações inusitadas.
Veio, assim, de início um caril de Banana com casca e um outro de Frango. A apresentação cuidada dos pratos, um regalo para a vista e para o olfato, faziam adivinhar a confeção caseira e minuciosa dos pratos de caril que, chegados ao palato, se desembrulharam numa antítese deliciosa de sabores agridoces. Aquelas mãos mágicas da cozinheira, uma ilustre mãe Gujarati, merece todo o carinho e preservação.
De olhos fechados para usufruir daquele festim, não dei pela chegada do tradicional Papad acompanhado por diferentes molhos, que me fizeram aterrar de novo em solo indiano sem sair do meu lugar. Ainda não refeito de tão proveitoso diálogo com os pratos de caril, concentrei-me no único prato quente escolhido: Kofta de carne de porco com leite de coco, caju, amendoim e vegetais. E, de novo, ouvi a harmonia dos sabores que tão bem se articulavam em compassos binários de ácidos e doces, crocantes e macios.
Ao longo da refeição, aqui a ali, quando a sede chamava, bebíamos um pouco de produto vínico, escolhido na diversidade do conteúdo das estantes da garrafeira, com a benesse de ter tido um ilustre conselheiro. E que belo foi aquele DEVANEIO de Alenquer, que me fez divagar, levar pela imaginação, gerando lembranças das viagens feitas ou sonhos de viagens desejadas. O aroma deste vinho é bastante pronunciado, caraterizado por notas de fruta vermelha, menta, especiarias e também aromas de fumeiro e caramelizado. De sabor, é seco, de acidez equilibrada.
A finalizar, para fechar em verdadeira apoteose, veio uma típica Bebinca (bolo feito em camadas, que requere algum tempo e prática, mas que no final se revela mais simples do que inicialmente possa parecer, é simplesmente delicioso. Apaixonei-me por este bolo quando almocei pela primeira vez em casa de amigos de origens Goesas), cujo recheio estava num exímio ponto de doçura, bem acompanha por uma nobre mousse de Manga. O avião prestes a aterrar e a conta de preço apropriado anunciava o fim da viagem.
Acesas as luzes da cabine, desapertado o cinto de segurança, regressei a casa em Lisboa, de onde afinal nunca saí, certo de que a viagem ora terminada me tinha proporcionado um diálogo fantástico com a ancestralidade da cozinha indiana.
Preço por pessoa €€ 25
Adorei, quero ir.