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“Tudo é possível” de Elizabeth Strout
Já tinha lido outras obras desta autora multipremiada e, quando assim é, temos quase a garantia de que o que vamos ler terá qualidade. Elizabeth Strout escreve com emoção, criando histórias reais sobre pessoas que parecem verdadeiramente existir. Cada personagem tem profundidade, e sinto que a autora escreve muito sobre si própria, pois há referências recorrentes a outras obras onde a protagonista é claramente inspirada nela. Neste livro, encontramos várias histórias que se cruzam. Lucy Barton, uma escritora famosa que cresceu numa família muito humilde, parece ser um reflexo da própria autora, ganhando aqui uma nova vida. Um dia, esta escritora regressa à casa da família (um momento já referido em obras anteriores), e daí surgem inúmeras histórias que resgatam emoções do passado. Gostei desta obra, que li rapidamente num fim de semana. Elizabeth Strout tem uma escrita fluida e emotiva, com parágrafos curtos e muitos diálogos, tornando a leitura…
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“O Homem das Cavernas” de Jørn Lier Horst
Voltei a autor escandinavo. Jørn Lier Horst escreve de forma crua. Se há sangue ou cadáveres em decomposição, quase consigo sentir o cheiro. A sua narrativa é acessível, com capítulos curtos e repletos de diálogo. Os parágrafos são breves, conduzindo-me habilmente pela descrição dos cenários. Uma Noruega gelada, onde a neve e o frio imperam. Em O Homem das Cavernas, acompanhamos a perseguição de um serial killer. Uma jornalista decide investigar a história de um idoso encontrado morto quatro meses após o seu falecimento. O foco da peça jornalística é a solidão. Como é possível alguém morrer e só quatro meses depois se dar pela sua ausência? A investigação acaba por nos levar ao assassino. O livro é extenso – diria que ronda as 16 horas de leitura –, mas desfrutei cada momento, apesar do peso das descrições.
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“Só Neste País”, de Filipe Santos Costa e Liliana Valente
Recentemente, tive a oportunidade de entrevistar os jornalistas Filipe Santos Costa e Liliana Valente. Ambos são especialistas em política e decidiram lançar um livro que compila a história política de Portugal desde 1975. Ao longo dos anos, foram guardando as histórias mais insólitas da nossa classe política num ficheiro que batizaram de “WTF”. Li o livro com enorme prazer e admito que sou fã desta zona histórica de Portugal. Já era nascido no 25 de Abril, e a minha família sempre teve grande consciência política. Quando era miúdo, ouvia falar destes assuntos nas reuniões familiares. Talvez seja por isso que gosto tanto de explorar tudo o que está relacionado com o pós-25 de Abril. “Só Neste País“ é um verdadeiro prazer de leitura, revelando a classe política portuguesa no seu “melhor”. Naturalmente, tirei algumas conclusões ao longo da leitura, como a ideia de Sá Carneiro ter sido um pequeno ditador,…
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“Infiltrado” de Jeff Abbott
Admito que não fiquei grande fã desta obra. Ainda assim, faz sentido falar sobre ela, pois, apesar de não ser particularmente bem escrita, conseguiu divertir-me. A tradução para português apresenta alguns erros de simpatia, como trocas de letras, o que pode incomodar um pouco a leitura. O livro é extenso, mas a narrativa desenvolve-se a grande velocidade, quase como se estivéssemos a assistir a um verdadeiro “filme” de ação. Trata-se de um thriller em formato de série. Apesar de não ter lido os livros anteriores, foi fácil acompanhar a história, já que esta funciona como um enredo independente, protagonizado por Sam Capra. O enredo centra-se na aventura de como alguém se infiltra no seio de uma família envolvida em negócios duvidosos. Ao longo da leitura, ficamos com uma ideia de como se comporta um infiltrado. Há muita ação, muitos tiros, muitos golpes e cenas de luta. Embora seja um livro…
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Plataforma
Depois da perda do pai, Michel Renault decide passar uns dias na Tailândia. As cenas de erotismo e sexo são descritas com grande detalhe, o que me surpreendeu. “Plataforma” é um livro sobre solidão e perda, explorando temas profundos e, por vezes, desconfortáveis. Grande parte do livro é narrada na primeira pessoa, mas há momentos em que o protagonista não está presente nas cenas descritas, o que achei curioso. Nunca tinha refletido sobre o turismo sexual, que é abordado no livro como uma realidade perturbadora e muito crua. As personagens têm uma dimensão emocional marcante, o que as torna muito humanas e fáceis de compreender. Gostei do livro, apesar de o considerar uma obra algo depressiva. O protagonista enfrenta uma existência sem muitas soluções ou respostas claras para o seu caminho. Este é o segundo livro que leio de Michel Houellebecq, e fiquei curioso para explorar mais da sua obra.…
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Emilia Perez
Vencedor de dois prêmios no Festival de Cannes, inclusive um destinado as atrizes principais da produção e que inclui Selena Gomes é uma obra que divide opiniões. Não deixa ninguém indiferente diante de seu estilo incomum – ou de uma canção e música misturado com o diálogo. Filme bem realizado com uma bela direção de actores A ação decorre no México, onde Rita (Zoe Saldana) é uma advogada frustrada por trabalhar numa firma corrupta, enquanto o chefe leva os louros de seu trabalho. Recebe um convite inesperado de Manitas (Karla Sofia Gascón), um poderoso líder de cartel que a contrata para ajudá-lo a realizar um sonho: transformar-se numa mulher a partir de uma cirurgia. Para isso, o traficante vai fingir a própria morte e assumir o nome de Emilia Perez, algo que esconde até da esposa Jessi (Selena Gomez) e dos filhos pequenos, que passam a morar na Suíça, como forma de…
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José Peixoto um homem que dedicou a sua vida ao teatro
Provavelmente, esta foi a encenação mais desafiante da sua carreira. Em setembro, José Peixoto enfrentou um tratamento de radioterapia e, há pouco mais de mês e meio, foi submetido a uma cirurgia à coluna. Não foi, de todo, um processo fácil. Contudo, o que é certo é que o espetáculo Os Rústicos chegou ao palco! Há cerca de 35 anos, José Peixoto decidiu traduzir para português uma obra de Carlo Goldoni e levá-la a cena. Esta nova versão, no entanto, não tem nada a ver com a anterior: é mais madura, mais ritmada e profundamente atual. A história transporta-nos para uma sociedade onde a mulher é tratada como uma escrava, obrigada a obedecer às ordens do marido. O enredo centra-se num patriarca que decide casar a filha, transformando o casamento num verdadeiro negócio. A Companhia de Teatro dos Aloés pega nesta narrativa e transforma-a num dos espetáculos mais divertidos que já vi…
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“O Nosso Agente em Havana” de Graham Greene
Sou completamente viciado no meu leitor de livros digitais. A televisão deixou de ser a minha companhia habitual, e agora passo os serões a ler. Em média, consigo terminar um romance por semana. Tem sido uma experiência incrível, não só porque me sinto mais feliz, mas também porque estou a descobrir autores que desconhecia por completo. Tenho o hábito de alternar entre um clássico e um autor novo. Desta vez, aproveitando a Black Friday, comprei para o meu Kobo uma obra de um autor que considero um clássico, mas que nunca tinha ouvido falar: Graham Greene. Greene foi um jornalista e escritor britânico com uma obra vastíssima que, até agora, me tinha passado ao lado. Decidi começar com O Nosso Agente em Havana, uma verdadeira sátira ao universo dos livros de espionagem. A narrativa transporta-nos para uma Cuba pré-revolução de Fidel Castro, uma época em que a cultura americana era…
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“A Varanda do Frangipani” de Mia Couto
Desde que comprei o Kobo, leio a toda a hora, e quase já não vejo televisão. Tem sido uma verdadeira descoberta, com autores novos e também os consagrados. Já tinha lido obras de Mia Couto e ficado sempre com a sensação de uma delicadeza única. Não se pode ler Mia Couto com a leveza de um romance qualquer. É preciso compreender as entrelinhas, onde cada palavra tem muito mais significado do que o que se capta numa primeira leitura. A sua escrita possui uma riqueza narrativa ímpar; cada frase é um poema carregado de sentido. Mia Couto não é um autor para se ler deitado com sono, porque, provavelmente, vamos perder a profundidade das suas palavras. Confesso que A Varanda do Frangipani me deixou triste, pois é uma obra sobre a morte e sobre como podemos encará-la. Há uma fortaleza em Moçambique que, noutros tempos, foi um ponto estratégico importante,…